Gunther Rudizt
A política americana não é mais a mesma. Tradicionalmente, ao fim da primeira metade do processo das primárias eleitorais, os dois principais partidos, o Democrata e o Republicano, já teriam definido qual candidato venceria.
Mas este ano a disputa, pelo menos do lado dos democratas, deve ir até a convenção do partido, em agosto, e os republicanos deverão ter o seu candidato definido ao fim da próxima grande rodada de primárias estaduais. Qual seria a razão para tanta disputa assim esse ano?
O próximo presidente vai herdar uma “herança maldita”, como se falou muito aqui no Brasil. O governo George W. Bush teve um início contestado, afinal, ganhou a presidência com menos votos diretos do que seu concorrente, o ex-vice-presidente Al Gore, e só depois de um confuso processo judicial que chegou até a Suprema Corte, é que ele foi considerado o vencedor.
Mas com os atentados de 2001 sua popularidade subiu rapidamente para mais de 80%, e o país passou a viver em constante “guerra contra o terror”. Essa realidade fez com que o presidente conseguisse a sua reeleição e passasse a quase totalidade dos seus dois mandatos com índices de aprovação acima dos 50%.
Mas quando faltava um ano e meio para a sua sucessão, o governo W. Bush passou a ser criticado por todos, e chega ao fim da sua gestão com uma das piores avaliações na história do país. Dependendo das pesquisas, abaixo dos 30%, superando a rejeição ao ex-presidente Richard Nixon que renunciou antes do fim do seu mandato no início dos anos 70.
Essa impopularidade se deve a vários fatores, como seguro saúde, assistência para medicamentos, assistência social, empobrecimento médio da população, imigração, mas dois são fundamentais: a guerra no Iraque e a crise econômica. Estes dois últimos pontos são muito importantes para o cidadão americano.
A guerra no Iraque - que já dura cinco anos - matou aproximadamente quatro mil soldados, e traz à memória o fantasma da guerra do Vietnã. Não pelo número de americanos mortos, já que naquela guerra foram ao redor de cinqüenta e cinco mil, mas sim, pela impossibilidade de ganhar e o país ter que “se afundar” em um longo conflito.
O fator econômico sempre foi importante para o povo americano, e algumas eleições já foram decididas devido a crises econômicas, como foi o caso do presidente Jimmy Carter, que não conseguiu se reeleger em 1981, e George H. Bush (pai do atual presidente), que também não conseguiu se reeleger em 1993. Assim, fica um pouco mais claro, o porquê há uma disputa tão grande no partido Democrata.
A economia americana encontra-se em crise e o grande debate é se ela se tornará uma grande recessão ou não. Com a eleição marcada para o dia quatro de novembro, é praticamente certo que o candidato democrata será escolhido o quadragésimo - quarto presidente americano -, pois até lá, mais eleitores estarão sentido os problemas econômicos nas suas vidas. E é por isso que Barack Obama e Hillary Rodham Clinton estão tão empenhados em serem designados candidatos presidenciais pelos democratas.
Essa escolha não será fácil, mesmo porque os dois representam duas percepções opostas para os eleitores americanos. Hillary Clinton é vista como a continuidade da “política de sempre” de Washington, com seus vícios e corrupção. Seria a volta do seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, e por isso ela procura usar a imagem de que tem experiência para governar o país em tempos difíceis, inclusive em termos econômicos.
Já Obama, por ser jovem (46 anos) e estar em seu primeiro mandato como senador, é acusado de inexperiente, principalmente em política externa. Contudo, ele usa a sua imagem de jovem, não comprometido com a politicalha e a idéia de mudança, como slogan da sua campanha.
Devido a essa divisão, é muito provável que após a próxima “grande primária”, que será dia 4 de março, nenhum candidato consiga o número de delegados necessários para ser considerado vencedor. E isso tornará imprescindível uma grande habilidade política para a negociação até o final da convenção. Mas devido ao histórico de cada candidato, e depois de uma campanha muito acirrada, fica difícil imaginar que consigam um acordo para que um seja candidato à vice-presidente pelo outro.
É com essa divisão que os republicanos contam, especialmente John McCain, que já pode ser considerado o candidato do partido Republicano. Após concorrer nas duas últimas prévias e perder para o atual presidente, McCain aposta em um discurso mais moderado e tenta agradar aos eleitores independentes, sem filiação partidária.
Contudo, sem o apoio maciço do seu próprio partido - que parece que vai acontecer tendo em vista que muitos não o consideram conservador suficiente - será difícil ele concorrer em pé de igualdade com os democratas.
Por tudo isso, é praticamente certo que este ano os americanos quebrarão um tabu. Eles deverão eleger um negro ou uma mulher pela primeira vez presidente.
Por Gunther Rudzit, doutor em Ciência Política pela USP, mestre em National Security pela Georgetown University, ex-assessor do Ministro da Defesa e professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco.
A política americana não é mais a mesma. Tradicionalmente, ao fim da primeira metade do processo das primárias eleitorais, os dois principais partidos, o Democrata e o Republicano, já teriam definido qual candidato venceria.
Mas este ano a disputa, pelo menos do lado dos democratas, deve ir até a convenção do partido, em agosto, e os republicanos deverão ter o seu candidato definido ao fim da próxima grande rodada de primárias estaduais. Qual seria a razão para tanta disputa assim esse ano?
O próximo presidente vai herdar uma “herança maldita”, como se falou muito aqui no Brasil. O governo George W. Bush teve um início contestado, afinal, ganhou a presidência com menos votos diretos do que seu concorrente, o ex-vice-presidente Al Gore, e só depois de um confuso processo judicial que chegou até a Suprema Corte, é que ele foi considerado o vencedor.
Mas com os atentados de 2001 sua popularidade subiu rapidamente para mais de 80%, e o país passou a viver em constante “guerra contra o terror”. Essa realidade fez com que o presidente conseguisse a sua reeleição e passasse a quase totalidade dos seus dois mandatos com índices de aprovação acima dos 50%.
Mas quando faltava um ano e meio para a sua sucessão, o governo W. Bush passou a ser criticado por todos, e chega ao fim da sua gestão com uma das piores avaliações na história do país. Dependendo das pesquisas, abaixo dos 30%, superando a rejeição ao ex-presidente Richard Nixon que renunciou antes do fim do seu mandato no início dos anos 70.
Essa impopularidade se deve a vários fatores, como seguro saúde, assistência para medicamentos, assistência social, empobrecimento médio da população, imigração, mas dois são fundamentais: a guerra no Iraque e a crise econômica. Estes dois últimos pontos são muito importantes para o cidadão americano.
A guerra no Iraque - que já dura cinco anos - matou aproximadamente quatro mil soldados, e traz à memória o fantasma da guerra do Vietnã. Não pelo número de americanos mortos, já que naquela guerra foram ao redor de cinqüenta e cinco mil, mas sim, pela impossibilidade de ganhar e o país ter que “se afundar” em um longo conflito.
O fator econômico sempre foi importante para o povo americano, e algumas eleições já foram decididas devido a crises econômicas, como foi o caso do presidente Jimmy Carter, que não conseguiu se reeleger em 1981, e George H. Bush (pai do atual presidente), que também não conseguiu se reeleger em 1993. Assim, fica um pouco mais claro, o porquê há uma disputa tão grande no partido Democrata.
A economia americana encontra-se em crise e o grande debate é se ela se tornará uma grande recessão ou não. Com a eleição marcada para o dia quatro de novembro, é praticamente certo que o candidato democrata será escolhido o quadragésimo - quarto presidente americano -, pois até lá, mais eleitores estarão sentido os problemas econômicos nas suas vidas. E é por isso que Barack Obama e Hillary Rodham Clinton estão tão empenhados em serem designados candidatos presidenciais pelos democratas.
Essa escolha não será fácil, mesmo porque os dois representam duas percepções opostas para os eleitores americanos. Hillary Clinton é vista como a continuidade da “política de sempre” de Washington, com seus vícios e corrupção. Seria a volta do seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, e por isso ela procura usar a imagem de que tem experiência para governar o país em tempos difíceis, inclusive em termos econômicos.
Já Obama, por ser jovem (46 anos) e estar em seu primeiro mandato como senador, é acusado de inexperiente, principalmente em política externa. Contudo, ele usa a sua imagem de jovem, não comprometido com a politicalha e a idéia de mudança, como slogan da sua campanha.
Devido a essa divisão, é muito provável que após a próxima “grande primária”, que será dia 4 de março, nenhum candidato consiga o número de delegados necessários para ser considerado vencedor. E isso tornará imprescindível uma grande habilidade política para a negociação até o final da convenção. Mas devido ao histórico de cada candidato, e depois de uma campanha muito acirrada, fica difícil imaginar que consigam um acordo para que um seja candidato à vice-presidente pelo outro.
É com essa divisão que os republicanos contam, especialmente John McCain, que já pode ser considerado o candidato do partido Republicano. Após concorrer nas duas últimas prévias e perder para o atual presidente, McCain aposta em um discurso mais moderado e tenta agradar aos eleitores independentes, sem filiação partidária.
Contudo, sem o apoio maciço do seu próprio partido - que parece que vai acontecer tendo em vista que muitos não o consideram conservador suficiente - será difícil ele concorrer em pé de igualdade com os democratas.
Por tudo isso, é praticamente certo que este ano os americanos quebrarão um tabu. Eles deverão eleger um negro ou uma mulher pela primeira vez presidente.
Por Gunther Rudzit, doutor em Ciência Política pela USP, mestre em National Security pela Georgetown University, ex-assessor do Ministro da Defesa e professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco.
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